domingo, 18 de outubro de 2009

16/10/09 - 24o dia - Touros - Macau (RN)



Localidades visitadas: São Miguel do Gostoso, São Bento do Norte, Caiçara do Norte, Guamaré e Macau.

Conforme já escrevi, o mar do norte do RN não é bonito. Por isso, hoje, não foi um dia interessante. Para relembrar os tempos da Patagônia, quando pilotei 2.300 km em estrada de cascalho, resolvi atalhar e peguei 26 km de terra entre São Miguel do Gostos e Parazinho. Esse atalho foi uma forma de não retornar pelo mesmo caminho, conforme é meu princípio. Mas foi difícil. Tive que fazer toda o percurso ente 20 e 30 km/h.
Dormi numa cabana abandonada na praia de Macau, indicada pelos próprios barraqueiros. O Senhor Expedito, barraqueiro colado à minha, me adotou. Me cedeu seus aposentos para tomar banho, coco gelado e até comida sua esposa queria fazer. O casal tem 16 filhos e nenhum mora na mesma cidade que eles.
No outro dia cedo o Sr. Expedito me acompanho até uma padaria no centro cidade, onde nos depedimos emocionados.
Hoje foi um dia de reflexões sobre filhos. Vinha pela estrada, sob um sol infernal e bunda e braços doendo muito, e resolvi parar debaixo de uma árvore onde encontrava-se uma velha.
Ao estacionar, a velhinha veio encontrar comigo dizendo: "tire o capacete devagarinho, senão você pode morrer!". Ela foi me explicar que uma conhecida dela morreu do choque térmico ao retirar o capacete. Não acreditei nela e tirei logo.
A senhora vende mel debaixo da árvore e alí, sozinha, fica a recordar dos seus onze filhos. Em dez minutos, como uma metralhadoura, ela me contou sobre sua vida e a de seus filhos. Seu entuasiasmo era maior para falar de um que mora no Maranhão e tem casa, apartamento e lancha voadora e outro bem de vida que mora no interior de São Paulo. Nenhum filho mora com ela.
Mas o entusiasmo da velhinha, que segundo ela tem 144 anos (72 dias e 72 anos) abacabou quando perguntei: "porque a sra não vai viver com seus filhos?". Aí ela respondeu, sem mostrar sorridente os dois dentes frontais que vi desde que cheguei: "Ah! você sabe, né? Eles tem a vida deles".
Aí eu voltei para a estrada pensando dentro do meu capacete: "uma mãe cria onze filhos e onze filhos não cuida de uma mãe".
Tenho um casal de vizinhos cujo homem encontra-se cego após uma cirurgia da cabeça, a mãe vendendo roupas de porta-em-porta e o filho que ganha muito bem em Nova Yorque gastando todo seu dinheiro com diversão. Nem antes da cirurgia, nem depois, perguntou se precisavam de algum dinheiro. Pelo contrário, saiu de São Paulo deixando dívida para mãe pagar. O cara mora num apartamento num dos endreços mais caros daquela cidade americana.
Outros filhos que conheço nem trabalhar quer para usufruir dos parcos recursos dos pais ou dos avós.

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